Uma metodologia desenvolvida por cientistas britânicos e americanos
mede quantas populações de animais que vivem em determinados estados
englobados pela Amazônia Legal podem desaparecer devido ao desmatamento
no bioma.
No estudo publicado na quinta-feira (12) na revista “Science”, os
pesquisadores conseguiram saber, por exemplo, quantos mamíferos, aves e
anfíbios serão extintos em determinadas regiões devido ao desmatamento
ocorrido entre 1978 e 2008.
Para isso, os pesquisadores da Imperial College e do Instituto de
Zoologia, ambos de Londres, além da Universidade Rockefeller, dos EUA,
utilizaram o conceito de “débito de extinção”, número que representa a
diferença entre a expectativa de perda de biodiversidade e o que de fato
já desapareceu na natureza.
A partir de informações de satélite fornecidas pelo Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora o desmate mensal e o anual,
os estudiosos conseguiram mapear a Amazônia, dividindo-a em 700 partes, e
chegaram à previsão por unidade federativa.
Redução na biodiversidade
De acordo com o estudo, o desmatamento na Amazônia ocorrido entre 1978 e
2008 pode extinguir futuramente um número grande de espécies em seis
estados. Neste período, de acordo com o Inpe, a Amazônia Legal perdeu
581.400 km² de vegetação nativa, uma área maior que o estado da Bahia.
Não existe um número global de espécies que sumiriam da Amazônia. O
cálculo foi feito por estado. Sem precisar quando e quais animais seriam
afetados, os pesquisadores afirmam, por exemplo, que 12 espécies de
mamíferos, 13 de aves e três de anfíbios -- um total de 28 animais --
poderiam sumir no Tocantins a partir de 2008, como resultado do desmate
histórico. O estado seria o mais afetado pela perda de biodiversidade em
decorrência da redução da cobertura vegetal.
Maranhão seria a segunda região com maior declínio de animais, com o
possível desaparecimento de 20 diferentes espécies a partir de 2008.
Mato Grosso, Rondônia, Pará e Acre também sofrerão com a redução da
população de espécies ou mesmo a extinção delas, segundo a estimativa.
Imagem
aérea mostra desmatamento na Amazônia. Perda da cobertura vegetal no
bioma pode acarretar na extinção de diversas espécies de animais.
Ação do homem
Na perspectiva para 2050, em uma realidade onde os níveis de
desmatamento atinjam índices superiores a 28 mil km² ao ano nos próximos
38 anos, o declínio de populações seria ainda maior.
Rondônia, por exemplo, lideraria a perda de biodiversidade de
mamíferos, aves e anfíbios. Sumiria das florestas daquela unidade
federativa ao menos 59 espécies. Já Roraima e Amapá, ambos na região
Norte, perderiam, cada um, 46 espécies.
O mais alarmante é que o desaparecimento de animais poderia acontecer
ainda no século 21. Por isso, os especialistas recomendam a
implementação -- e o cumprimento -- de políticas públicas voltadas para a
preservação.
Outro cenário desenvolvido é com taxas de desmatamento baixas – assim
como a de 2011, quando o bioma perdeu 6.418 km², menor índice dos
últimos 23 anos. Neste modelo, a perda de espécies seria menos
impactante. Entretanto, haveria a chance de recuperação de outras
populações graças a iniciativas de conservação.
Imagem de bicho-preguiça, espécie endêmica
da Amazônia. Se nada for feito para conter a
devastação, bioma pode perder até 78 espécies
de animais nos próximos anos.
De acordo com Thiago Rangel, doutor em Ecologia pela Universidade de
Connecticut e membro do Departamento de Ecologia da Universidade Federal
de Goiás, ações governamentais para manter a floresta em pé devem ser
acentuadas na Amazônia Legal.
Segundo ele, o monitoramento de desmatamento e queimadas, reforçado por
fiscalizações feitas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais (Ibama) aumentaram o número de sanções contra
atividades criminosas.
“Temos que olhar para essas atividades e ver como podemos melhorá-las. A queda do desmatamento foi exemplar”, explica.
Rangel explica que as alterações no atual Código Florestal, que segue
em discussão no Congresso, podem fomentar atividades ilegais na
floresta.
“A questão da anistia a quem desmatou, por exemplo, seria uma forma de
dizer que a lei anterior a esta em discussão não funcionava. O código em
debate é um código de desmatamento”.
Para o doutor em Ecologia, apenas com essas medidas é possível "dar um
calote no débito de extinção", ou seja, evitar a perda da biodiversidade
causada pelo desmatamento.
Chico Bento pede à presidente 'Dirma' que vete o Código Florestal
Ilustrações do cartunista Maurício de Sousa foram divulgadas nesta terça.
Presidente Dilma Rousseff tem até a próxima sexta para aprovar ou vetar lei.
O cartunista Maurício de Sousa divulgou nesta terça-feira (22) duas
ilustrações com o personagem Chico Bento pedindo à presidente Dilma
Rousseff que vete o projeto do Código Florestal.
O texto da nova legislação ambiental brasileira foi aprovado pela
Câmara dos Deputados no mês passado e está sob análise da presidente,
que tem poder de vetá-lo integral ou parcialmente.
Em um primeiro quadrinho, divulgado no Twitter de Maurício de Sousa,
aparece apenas Chico Bento dizendo “Veta tudim, dona Dirma”.
Em uma segunda ilustração, outros quatro personagens da história em
quadrinho – Rosinha, Hiro, Zé Lelé e Zé da Roça – aparecem junto ao
pequeno caipira, que pede providências contra possíveis "impactos nas
matas, nos rios e nos peixes".
Ilustração divulgada no Twitter do cartunista Maurício
de Sousa mostra o personagem Chico Bento pedindo
o veto ao Código Florestal.
A mensagem diz “Licença, dona Dirma! A gente num intendi muito das
coisas da lei mais intendi das nossa necessidade! I nóis percisa das
mata, dos rio, dos peixe... I tá todo mundo achando qui isso vai sê
mexido pra pior! A sinhora podi ajudá pra isso num acontecê? Nossa gente
vai agardecê por toda vida! Eu juro!”.
Prazo
Dilma tem até a próxima sexta-feira (25) para apresentar eventuais
vetos ou sancionar o projeto da forma como está. Nesta segunda-feira
(21), O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República,
Gilberto Carvalho, disse que a presidente está fazendo um “estudo
hipermeticuloso” sobre o Código Florestal.
Desde que o texto do novo Código Florestal chegou à Casa Civil, no dia 7
de maio, a presidente tem se reunido frequentemente com a ministra do
Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Na semana passada, por exemplo, as
duas só não se encontraram na sexta-feira, quando Dilma viajou para São
Paulo.
Em uma segunda ilustração, Chico Bento e sua turma deixam recado à presidente "Dirma".
Texto foi aprovado em abril
O texto aprovado na Câmara Federal incluiu pontos defendidos por
ruralistas e sem as mudanças feitas a pedido do governo na versão que
havia sido aprovada no Senado, principalmente em relação às obrigações
na recomposição de áreas desmatadas em beiras de rio, conhecidas como
Áreas de Preservação Permanente (APPs).
O texto aprovado pelos deputados manteve regra aprovada no Senado que
obrigava os produtores a recompor vegetação desmatada em beiras de rio,
numa faixa de no mínimo 15 metros ao longo das margens. O relator,
porém, incluiu dispositivo segundo o qual a exigência de recomposição
para pequenos produtores "não ultrapassará o limite da reserva legal
estabelecida para o respectivo imóvel".
A reserva legal é o percentual de mata nativa que deve ser preservado
nas propriedades privadas (varia de 20% a 80% do tamanho da terra,
dependendo da região). O artigo de Piau visa evitar que a área de
recomposição de APPs se torne muito maior do que a propriedade que
poderá ser mantida pelo produtor.
A recomposição vale para quem desmatou até julho de 2008 e é uma
alternativa ao pagamento de multas aplicadas aos produtores que
produziram em APPs. A regra sobre a recomposição havia sido abolida no
relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), mas foi reinserida pelo
presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), o que foi considerado uma
vitória do governo.