sexta-feira, abril 15, 2011

Slater - Noticias 11:Arca de noé selvagem

Uma arca de noé selvagem


   

Associação Protetora dos Animais Silvestres de Assis trata e mantém bichos não domésticos de todo o Estado que foram vítimas de queimadas, tráfico ilegal, atropelamentos e outros males


A professora de Ana Beatriz, 3 anos, achou melhor conversar com os pais da aluna. Para ela, a menina andava fantasiosa demais. "Um dia ela diz que tem um lobo em sua casa; no outro, que deu mamadeira para uma onça; no seguinte, que foi com o pai libertar uma ave selvagem", contou.
Os pais, Aguinaldo Marinho e Natália Tomas de Godoy, respiraram aliviados. Não havia nada de errado com a filha. A criança estava apenas relatando o dia a dia da família, responsável pela Apass (Associação Protetora dos Animais Silvestres de Assis), onde atualmente vivem cerca de 300 animais silvestres e um avestruz.

A associação é uma das poucas no Estado do gênero. São encaminhados para lá animais que por algum motivo têm dificuldade de retornar à fauna, como vítimas de queimadas, atropelamentos, maus-tratos e apreensões de tráfico ilegal, encaminhados pelo Ibama.
Até bichos que foram domesticados demais encontram um lugar para se recuperar na Apass.
Alguns ficam por lá permanentemente, porque não têm mais condições de se readaptar à vida selvagem.

Como é o caso da onça-parda (ou suçuarana) Vitória. Desde filhote, ela foi criada como um gato por uma trabalhadora rural e ficou tão doméstica que dificilmente sobreviveria em um ambiente natural.
A área que fica próxima à estrada de Cabiúna, em Assis, é uma chácara toda dividida em viveiros e jaulas para diversos tipos de animais e onde também mora a família de Natália e Marinho.
Ali, eles recebem cuidados diários e alimentação. O colega de Vitória, a onça-parda Vinny, por exemplo, é epiléptica e precisa ser medicada duas vezes ao dia. Na Apass, só recebe nome os animais que ficarão por lá, como a graxaim Mariana que é toda faceira e gosta de carinho.
A dedicação da família que gere o local é total. O casal passa o dia cuidado da limpeza, alimentação dos animais e atendendo a chamados. Não sobra tempo para mais nada.
Antes de se casar com Marinho, Natália conta que levava vida de madame, era dona de uma loja de sapatos, só andava de salto alto e ia ao salão pelo menos uma vez por semana, mas tudo mudou.

"Agora, olha aqui ó", diz apontando a bota que usa para andar pela Apass enquanto empurra um carrinho de pedreiro recheado de frutas cortadas para as aves.
A loja acabou falindo porque tudo o que ganhava, ela investia na associação. "Mas fazer o quê? A gente não consegue mais viver de outra maneira", conclui.

Entre os fatos que mais marcaram a vida de Natália em seus anos de Apass está a história de Gabi. O filhote de onça-parda foi encontrada com 90% do seu corpo queimado. "Ela estava muito tensa, mas suspirou e dormiu quando eu a abracei", lembra. O animal passou três dias tomando soro, nos braços de Natália, mas mesmo assim não sobreviveu.
120 quilos de diversos tipos de ração para animais é quanto os animais da Apass consomem por mês
2 toneladas de frutas é a quantidade que os animais comem todo mês
1,250 mil quilos de carne fecham o cardápio mensal da associação. Os pintos consumidos pelas cobras não estão nesta conta

Com quantas leis se faz uma associação de proteção:
Aguinaldo Marinho era bombeiro. Ele acabava sempre levando para casa os animais resgatados que não tinham onde se recuperar. Aos poucos, ele acabou se dedicando inteiramente a essa tarefa e começou a formalizar a atuação.
A Apass, associação sem fins lucrativos, entidade de Defesa dos Direitos Sociais, foi idealizada em 1997 e registrada em cartório em 2000. Ela tem o respaldo da Lei Municipal 3,956.
Tanto Marinho como a mulher Natália abandonaram suas profissões para cuidar dos animais. A associação vive hoje de contribuições. São supermercados da região que fornecem a alimentação, biólogos e veterinários que trabalham voluntariamente, entre outros. A Cart (Concessionária Auto Raposo Tavares) mantém uma parceria com a associação.

"Desde que viemos para o trecho, encontramos uma dificuldade para encaminhar os animais, até ficarmos sabendo do trabalho da Apass", conta Walace Merlin, coordenador de meio ambiente da Cart.
Hoje em dia, a Apass recebe animais que vêm de diversas regiões como Bauru, Epitácio Pessoa, Avaré e até Ribeirão Preto. Entre os projetos da associação está a construção de um viveiro para os felinos mais amplo e melhor estruturado.

O que fazer?
Encontrou um animal silvestre ferido pelo caminho? Nunca leve-o para casa. O certo é chamar quem entende do assunto: Bombeiros (193) e Polícia Militar (190). Se você estiver transitando pela a rodovia Raposo Tavares, ligue para 0800 773 00 90. A equipe da Cart (concessionária do rodovia) está preparada para atender a esse tipo de chamado Nesse caso, o animal ferido será encaminhado para a Apass

O QUE É ISSO?
Animal silvestre:
Não é o doméstico que já está acostumado a viver perto das pessoas, como os gatos, cachorros, galinhas e porcos, entre outros. É também aquele que faz parte da fauna local, do contrário, ele é considerado exótico, como o avestruz e a chinchila.

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